O Chamado de Ir Embora: Renascimento
Há momentos na vida em que a alma simplesmente pede licença para partir. Não para longe das pessoas ou do passado, mas para perto de si mesma.
Eu estou vivendo um desses momentos. A sensação é de que uma urgência interna me chama para um lugar mais autêntico, mais meu.
Acredito que muitos de nós já sentiram isso: um chamado para se libertar, para deixar de ser a versão que o mundo espera e abraçar a pessoa que realmente somos.
Este é o meu relato sobre esse processo — a transição da reflexão para a ação, a frustração de não ver resultados imediatos e a força encontrada na decisão de não retroceder, mesmo quando o cansaço bate.
O que significa “Ir Embora” para mim?
Quando eu falo em “ir embora”, a imagem que a maioria das pessoas tem é a de uma fuga: malas prontas, passagens compradas e um adeus definitivo para um lugar, uma pessoa ou uma fase da vida. Mas a minha partida não é para longe, e sim para dentro. Não é um abandono, mas um reencontro. Não estou tentando escapar de algo, mas sim me aproximar de quem eu realmente sou.
Para mim, fugir seria manter o que não me serve mais, a versão de mim mesma que se adapta, que se esconde ou que se diminui para caber nos espaços dos outros. A minha “partida” é um ato de coragem, uma decisão de me confrontar, de olhar para a minha própria essência e de descobrir quem sou, sem os ruídos externos e as expectativas que me aprisionaram por tanto tempo. É uma busca por um propósito que nasce de dentro, uma necessidade urgente de silenciar o mundo para poder ouvir a minha própria voz.
Esse “ir embora” é uma transformação interna e intensa, um renascer para a minha essência. Não é um bilhete de ida para um destino geográfico, mas sim o primeiro passo de um caminho que me leva a abraçar a mulher que eu quero ser, e não mais a que eu era.
Um movimento de libertação interna
Esse “ir embora” é, acima de tudo, um ato de libertação. Por muito tempo, eu me escondi atrás de máscaras. Vestia a de “quem se encaixa”, a de “quem agrada a todos” e a de “quem não causa problemas”. Essas versões de mim me protegeram, é verdade, mas também me aprisionaram. Eu as carreguei por tanto tempo que mal conseguia me lembrar de quem eu era debaixo de tantas camadas.
Abandonar essas máscaras é um processo doloroso e assustador. É como se eu estivesse me despindo diante do mundo, expondo as minhas verdades, que tentei esconder a vida inteira. Mas, ao mesmo tempo, é a coisa mais libertadora que já fiz.
É um reencontro com a minha própria alma, que tem clamado por espaço para respirar e expandir. É permitir que a minha essência finalmente se revele, sem a necessidade de amarras ou de um roteiro pré-determinado.
Não estou fugindo do meu passado, mas sim me libertando de uma versão antiga de mim mesma que já não me serve. Essa é a verdadeira busca: abandonar o que não sou mais para poder abraçar quem eu estou me tornando.
Da Reflexão para o Prático: O Desejo por Resultados Concretos
Cansar de viver só nos planos

Eu já refleti tanto que, se o autoconhecimento fosse uma maratona, eu já teria cruzado a linha de chegada há muito tempo. Por anos, minha vida existiu em um limbo de planos, ideias e reflexões intermináveis. Eu tinha tudo mapeado: o que eu queria ser, os caminhos que deveria seguir, os sonhos a serem alcançados. Mas a verdade é que eu estava vivendo apenas na teoria. A realidade era uma eterna espera.
Essa estagnação é exaustiva. A mente trabalha intensamente, mas o corpo e a vida permanecem no mesmo lugar. É como ter um mapa do tesouro perfeito, mas nunca dar o primeiro passo. Eu me cansei de ser a estrategista que nunca entra em campo. Preciso de resultados, de coisas concretas que me mostrem que estou avançando. Não quero mais me perder em pensamentos e suposições. Quero sentir o chão sob os meus pés e ver que a transformação que tanto desejo está, de fato, acontecendo.
A busca por um plano simples
Sentir o chão sob os pés se tornou minha maior prioridade. Por isso, me cansei de planos mirabolantes e de teorias complexas. O que preciso agora não é de um mapa com infinitos detalhes, mas de uma indicação que me aponte a direção. Não busco uma transformação instantânea, mas sim ações diárias que, mesmo pequenas, me tirem da inércia.
Quero algo focado em ações concretas que, juntas, construam o caminho. Pode ser algo tão simples quanto reorganizar uma parte da casa, dedicar cinco minutos a um hobby esquecido ou, ainda mais importante, dizer um “não” que liberta. O que importa não é a grandiosidade da ação, mas a sensação de que estou, de fato, agindo. A ideia é que esses pequenos passos se tornem a prova de que estou me movendo, transformando desejos em realidade. Não quero mais só pensar, quero fazer e ver acontecer.
A Exaustão de Agir sem Ver Resultados
Sentir que já fiz tudo, mas nada muda
Aqui é onde o caminho se torna mais difícil. É como correr uma maratona e, depois de todo o esforço, perceber que a linha de chegada não está à vista. Eu venho agindo. Cada passo, cada decisão, foi calculado com cuidado, seguindo os planos que fiz. Mas o que desejo não aparece. O retorno não chega.
Essa sensação é devastadora. É a dor de dar o máximo de si, de agir com total intenção, e ainda assim, o mundo não responder à altura. É a decepção de acreditar que se você fizer “tudo certinho”, os resultados virão. Mas não foi o que aconteceu. Em vez de ver as mudanças que tanto busco, o que sinto é apenas o peso do cansaço e a apatia.
Reconhecer limites invisíveis

É aqui que a realidade se impõe. Eu me sinto frustrada, mas sei que a culpa não é minha. Às vezes, por mais que a gente se esforce e planeje, existem fatores que estão fora do nosso alcance. O tempo, por exemplo, que tem seu próprio ritmo, ou o ambiente ao nosso redor, que nem sempre coopera. Pessoas, circunstâncias e, talvez, até bloqueios internos que ainda não consigo ver, podem atrasar ou dificultar a manifestação dos resultados que tanto desejo.
Reconhecer esses limites invisíveis é doloroso, mas também é um ato de libertação. Entender que nem tudo depende da minha força ou da minha vontade me permite soltar o controle e respirar. A aceitação não é sobre desistir, é sobre dar espaço para o que está fora do meu alcance, me permitindo focar no que posso controlar: a minha forma de agir, a minha paciência e, principalmente, a minha capacidade de me cuidar enquanto a vida se desenrola.
O Cansaço e a Decisão de Não Retroceder
O peso de tanto planejar e corrigir
Cheguei a um ponto de exaustão que não é físico. Meu corpo até aguenta, mas a alma não. Estou exausta de analisar, de corrigir a rota, de planejar cada passo e de ter que recomeçar quando o resultado não vem. É um cansaço que se acumula não por fazer, mas por refazer.
A cada plano que falha, a cada esforço sem retorno, sinto uma pontada de desânimo. E, sinceramente, agora só quero parar. Não quero mais olhar para o que foi feito, nem me forçar a encontrar um “novo jeito”. Agradeço a quem me escuta, mas o meu corpo e a minha mente imploram por uma pausa. A exaustão emocional é tão profunda que a única vontade que me resta é a de simplesmente não ter que fazer mais nada.
Segurar firme sem retroceder
No meio de todo esse cansaço, surge uma decisão. Um instinto me diz que não posso, nem vou, dar um passo para trás. Se não dá para ir em frente, então eu fico onde estou. Essa firmeza não é uma rendição, mas sim a minha maior força.
Ficar no lugar, sem retroceder, já é um movimento poderoso de resistência e autocuidado. É um “não” silencioso a tudo que me puxa para a versão de mim que eu era. É a coragem de me proteger, de me segurar em meio à tempestade e de dizer para mim mesma: “Você não precisa ir para trás”. Segurar firme no que eu sou e no que eu quero, mesmo quando o caminho parece parado, é a atitude mais corajosa que existe.
É fácil avançar quando tudo está dando certo, mas é na pausa, na espera, que a verdadeira força se revela. Estou aprendendo que o progresso nem sempre é visível e que a quietude pode ser, na verdade, a maior prova de que não desisti.
A espera ativa e acolhedora
Ficar parada, sem avançar nem recuar, não é o mesmo que ficar estagnada. Eu me dou conta de que essa pausa é, na verdade, uma espera ativa. É um momento de nutrir a alma, de recuperar as forças e de me preparar para o próximo passo, que virá no tempo certo.
Acolher essa espera com gentileza é a chave. Não se trata de uma pausa imposta pela frustração, mas de um tempo que escolho para mim, com presença, sem a pressão de “ter que fazer”. É um espaço para simplesmente ser. Estou aprendendo a confiar no processo, a entender que a vida tem um ritmo que nem sempre é o nosso e que, enquanto o universo se move, eu posso me cuidar. A espera, antes vista como um obstáculo, agora é um lembrete de que o meu bem-estar é prioridade, e que a transformação mais profunda acontece na calmaria, com gentileza e no meu próprio tempo.
Chego ao fim deste texto, mas a Busca está longe de terminar. A frustração de não ver resultados concretos ainda existe, mas a exaustão se transformou em uma nova forma de força. Entendi que a minha maior vitória não é o que eu conquisto lá fora, mas a firmeza de permanecer aqui, fiel ao meu desejo de ser eu mesma. A verdadeira partida não é para um destino, mas para um estado de ser. E o mais importante, não vou para trás. Fico, resisto e espero, com a certeza de que a transformação, mesmo que lenta, está acontecendo.
Por Mariléa Goulart
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